LUX SANCTUARIUM
Stella e seu marido Ben moravam em uma comunidade meio hippie num futuro não muito distante de agora.
Nessa comunidade, eles viviam com uma líder espiritual, Lux, que comandava a vida deles com seus ensinamentos em cultos diários e uma alimentação balanceada, com chás e suplementos naturais apenas.
Todos viviam felizes e saudáveis, até o momento em que a Stella fica doente, vomitando várias vezes ao dia e deitada na cama. Ela recusava o que comer e beber em virtude de seu estômago constantemente embrulhado. Seu marido ficava preocupado, mas, como ela havia recém menstruado, eles pensavam que ela apenas tinha um caso de TPM ou uma virose e, em alguns dias, isso passaria. Apesar dos enjoos debilitantes e da falta de apetite, Stella tentava com empenho tomar os chás e vitaminas que sua líder tanto recomendava como uma cura para qualquer mal-estar. Infelizmente, eles a deixavam ainda mais enjoada e os vômitos eram induzidos em seguida à sua ingestão. Stella ficava de coração partido pela preocupação que seu estado trazia ao seu amado marido. Eventualmente, ela achou que seria prudente não dizer que os chás e suplementos a faziam vomitar mais. Isso certamente passaria logo e não faria diferença o Ben saber disso tudo.
Nesses dias e momentos em que ela estava doente, Stella começou a criar uma consciência de que a maneira como eles viviam não tinha nada de natural. A menstruação dela veio estranha, não estava como de costume, mas sim um fluxo intenso e doloroso. Ela havia trocado os suplementos por pastilhas de açúcar e os chás medicinais por um chá feito em casa com ervas do seu jardim. Ela começou a achar um pouco estranha a maneira como Ben não contestava nada do que a líder lhe dizia. E aí Stella pensou: a troco de que temos uma líder?
Numa tarde em que ela estava um pouco melhor, resolveu visitar o irmão de seu marido, Marco. Ele já tinha sido um grande contestador do sistema no passado, um rebelde anarquista. Porém, graças ao seu irmão mais velho, Ben, ele se iluminou e mudou radicalmente de visão sobre como deveríamos viver, e eventualmente os acompanhou para viver na comunidade. Até o pai viúvo deles foi convencido de que a vida natural e despreocupada em uma cidade remota era tudo que essa família precisava para viver bem. Marco inclusive virou um braço direito de Lux, e tinha muita influência nas decisões sobre o bem comum da comunidade.
Ao questioná-lo sobre o modo como viviam, ela também falou sobre suas emoções e opiniões conflitantes. Marco rapidamente a tranquilizou e disse que, tão logo ela melhorasse da virose, tudo isso sairia da sua mente. Ele então fez uma proposta a Stella para que ela tivesse certeza mais à frente de que tudo estava bem. No escritório de sua casa, ele abriu uma gaveta e cedeu à ela uma pequena câmera digital. Era uma câmera muito pequena, um pouco maior que um cartão de crédito e um pouco mais fina que a largura de um dedo indicador. Stella, extremamente surpresa, questionou-o sobre como seria possível para ela utilizar a câmera, já que todos na comuninade faziam um voto de exclusão digita. (Lux dizia que uma higiene digital era o primeiro passo para uma higiene mental e corporal para vivermos bem e saudáveis). Marco então sorriu, e disse que sim, que em tese ninguém poderia usar a câmera, mas que Lux e seus mais chegados, por estarem em um estado mental mais avançado, conseguiam usar tecnologia de maneira controlada e com um objetivo por um bem maior. Ele mesmo usava câmeras para fotografar e filmar o cotidiano da comunidade. No fim do mês, Lux recolhia as câmeras e editava fotos e vídeos como material para palestras e sites no mundo secular, a fim de mostrar uma prova possível de como viver melhor. Tudo isso era custeado pelos seus seguidores, todos faziam praticamente um voto de confiança na sua líder e entregavam todas as suas propriedades e dinheiro a ela. Afinal, nada disso era necessário na comunidade: todos ganhavam casas e viviam do que era plantado e criado por lá, e Lux precisava dessa ajuda financeira para custear suas idas ao mundo secular, onde tudo tinha um preço e a tecnologia reinava suprema.
Um pouco relutante, Stella aceitou a ideia. Após um breve tutorial de como operar a câmera, ela a colocou no bolso de sua calça e realmente nada se notava, era impossível perceber a câmera em seu bolso. Stella não sabia exatamente o que filmar ou fotografar, mas achou bom praticar e entender os recursos do equipamento fazendo alguns vídeos e fotos dela mesma.
Chegando em casa, como ela estava sozinha, Stella resolveu naquele momento começar a praticar. Ela desajeitadamente ligou a câmera e, depois de algumas tentativas, conseguiu acertar o foco e fez um vídeo falando sobre como ela vivia na comunidade e sobre como tinha pensamentos positivos acerca de sua enfermidade. Em seguida, seu marido chegou em casa e ela rapidamente se jogou na cama, terminando o vídeo e escondendo a câmera embaixo do travesseiro. Ben ficou contente de ver que ela parecia remotamente melhor e, em seguida, trouxe o chá e os suplementos. Ainda bem que Stella havia jogado seus suplementos no vaso sanitário e substituído o chá de Lux pelo chá do jardim mais cedo, já que o marido havia trazido tudo para ela na cama e ela não poderia substituí-los na frente dele. Ben, contente, disse que ele iria tomar um banho rápido e já voltaria para cuidar dela. No momento em que ele ligou o chuveiro, Stella saiu da cama e escondeu a câmera em um par de meias dentro de sua gaveta na cômoda.
No dia seguinte, como estava ainda bastante enjoada, Ben saiu sem ela novamente, mas não sem antes lhe trazer os suplementos e o chá. Ele disse que estava confiante de que Stella melhoraria em breve, esse era o quarto dia em que ela estava assim e essas viroses não duravam mais que uma semana, de acordo com Ben. Algum tempo depois, ela levantou e pegou a câmera que havia escondido na noite anterior, fez outro vídeo de si mesma falando sobre como estava naquela manhã e começou a tirar fotos da comunidade. E mais tarde, fez um vídeo no início da noite, antes da chegada do seu marido de volta à casa. E assim ela o fez por uma semana, todos os dias sem faltar.
Cada vez Stella sentia que estava mais fora de si mesma, como se tivesse a despertar no corpo de outro alguém. Os enjoos iam e vinham, algumas vezes ela estava de cama e outras vezes parecia que nada tinha. Ela achou que, como havia uma certa melhora, não havia motivo para voltar aos chás e suplementos. Que mal ia fazer dar um tempo neles? Naquela tarde, ela estava com um enjoo bem forte e, após fazer o último vídeo, ela resolveu assistir aos vídeos que ia apagar antes de entregar a câmera de volta. Ela assistiu todos os vídeos em sequência e algo a alarmou: o quanto seu rosto havia mudado. No primeiro dia, notou suas pupilas mais dilatadas, o rosto praticamente sem expressão, como se estivesse anestesiado numa posição muscular fixa. Um olhar distante, olhos vidrados e vazios. A cada dia e a cada nova filmagem, isso ia diminuindo e aí Stella entendeu que a sensação de estar noutro corpo era real. No último vídeo, o de hoje, ela via suas pupilas num tamanho normal e o rosto estava com sua expressão de volta: triste, caída e depressiva. Parecia que ela havia acordado de um sono profundo e dormente em um mundo de dor e confusão mental. Além dos enjoos e da virose, o que mais havia mudado naquela semana? Será que ela estava mais doente do que pensava… de repente, como um soco no estômago que traz aquele sentimento de cair num vazio infinito, veio uma resposta: ela não estava doente… ela estava doente por causa dos chás e suplementos! Ela não está doente… ela está desintoxicando seu corpo!
Stella apressadamente voltou à casa do cunhado e resolveu contar a ele tudo que passou naquela semana. Ela lhe mostrou os vídeos e relatou o que havia acontecido ao parar os chás e suplementos. Marco, no começo, riu, achando que talvez a mulher estivesse delirante por conta da virose. Ele assistiu aos vídeos e disse que talvez ela estivesse diferente por causa da doença. Stella insistiu que não e propôs a ele que parasse também com os chás e suplementos por uma semana e, como ela, filmasse o processo 2 vezes ao dia. Ela tirou de sua bolsa mais das pastilhas de açúcar e do chá de seu jardim para que ele fizesse o mesmo. Marco de repente ficou sério e viu que ela não estava brincando, que ela realmente queria que ele tomasse pastilhas doces ao invés dos suplementos. Como a gentileza que Lux fazia em compartilhar com eles poderia ser um engodo? E esse plano sem fundamento de Stella? A mulher então rebate dizendo que se ele nada tem a temer, isso pode ser feito sem consequências e o que ela disse vai ser provado errado e voltarão à vida de antes sem problemas, é só tomar tudo de novo e estarão “normais” mais uma vez. Se Stella estivesse errada, que Marco fizesse tudo que ela disse e assim provasse que ela estava errada. Marco então concorda e diz que vai seguir o plano à risca e, em uma semana, nada vai ter acontecido.
Durante essa semana, Stella continua tomando o chá e suplementos falsos à espera do que Marco vai dizer. Ao fim daquela semana, ela volta para saber o que aconteceu com ele e encontra seu cunhado transtornado e consternado, dizendo que ela tinha razão e que as mesmas coisas aconteceram com ele! Eles precisavam fazer algo a respeito, tinham que sair da comunidade e procurar informações no mundo secular: o que Lux estava fazendo que precisava drogar seus seguidores?
Dali por diante, os dois começaram a elaborar um plano e se encontravam nos momentos em que Stella não tinha os enjoos debilitantes. Ela também decidiu não informar o marido sobre tudo, mas sim trocar o chá e suplementos dele para que ele aos poucos também tivesse sua consciência de volta. Os vídeos que ela e Marco já tinham seriam suficientes, pois eles pensavam que, se dessem a câmera a Ben agora, provavelmente ele a levaria para Lux, achando que sua esposa e irmão haviam perdido a cabeça numa bobagem sem fundamento. E assim o fizeram.
Stella, ao longo da semana, começou a plantar a ideia na cabeça do esposo de que ele estava um pouco doente também e que ele poderia ficar mais em casa naquela semana para descansar. Enquanto isso, ela e Marco participavam de tudo na comunidade como se nada tivesse acontecendo e ao mesmo tempo, sempre pensando em maneiras de ir embora daquele lugar sem fazer alarde quando chegasse a hora. Anotavam saídas e chegadas de Lux, seus assessores e dos eventuais fornecedores e apreciadores do mundo secular, pensando em como poderiam usar aquilo a seu favor. Em casa, era nítido que havia uma turbulência nas expressões de Ben e que, dia após dia, ele parecia mais cheio da mesma dor e dúvida que Stella viu em seus próprios olhos semanas antes. Chegava então no fim daquela semana, a hora de abrir o jogo e contar tudo. Marco, com a desculpa de visitar Ben e ver se ele havia melhorado, iria ajudar Stella com a revelação.
O que eles não esperavam é que Ben além de não acreditar neles, ainda achou que a virose da esposa havia passado para ele e seu irmão, e que, ao pararem de tomar os chás e os suplementos De Lux, eles haviam piorado a situação. Como Ben se recusava a ver o que acontecia? Ele estava cego e não queria ver! Ele havia sofrido lavagem cerebral e sido drogado mais tempo, era um seguidor mais antigo que eles! Ele havia cortado laços com o resto da sua família e eventualmente trouxe sua então namorada, hoje esposa, depois o pai e por último o irmão. Sua devoção e gratidão à Lux era tão profunda quanto a sua negação de que eles eram apenas usados para financiar o projeto de santuário que era na verdade uma seita.
Ben tomou a câmera de Stella e rapidamente correu para fora da casa e em direção à mansão da líder Lux, onde ficava o escritório principal da comunidade que ela e seus assessores usam quando não estavam no Templo da Saúde ou em viagens ao mundo secular para trazer recém-convertidos.
Atrás dele corriam desesperados sua esposa e seu irmão, tentando fazer com que ele mudasse de ideia. Mas o homem corria cada vez mais rápido a ponto de que ficou impossível acompanhar suas pernas altas e fortes, correndo como se fosse um antílope fugindo de um leão na savana.
Ao chegar na frente da mansão, Ben subitamente para e vira de costas, sua esposa e irmão ainda correndo desesperadamente. Ele vê Stella ficando para trás, vomitando e caindo no chão. Marco vai até Stella para socorrê-la e Ben vai ao encontro dos dois. Ben diz ao irmão,que segura em seus braços Stella quase desacordada, que todos eles estão doentes, mas ela está mais. Só a líder Lux pode lhes ajudar. Marco, derrotado e sensibilizado pela dor do irmão e pelo estado da cunhada, assentiu e os dois a levam para o pórtico da mansão e tocam a campainha.
Rapidamente, os três são ajudados por muitas pessoas que estavam fazendo diversos serviços na entrada da mansão. Em seguida, chegou o assessor particular de Lux e prontamente reconheceu Ben como um dos participantes do círculo íntimo da líder e praticamente parte de sua família. Lux foi chamada e, enquanto colocavam Stella semi consciente numa espécie de enfermaria, Ben contou tudo o que se passava à Lux que chegara alguns minutos antes.
Quando Stella acordou, estava num quarto de hóspedes da mansão. Quarto de hóspedes é modo de dizer, pois qual quarto de hóspedes não tem uma maçaneta do lado de dentro e sim do lado de fora da porta? Prontamente, ela entendeu o que acontecera: estava presa, provavelmente por ordens de Lux, para conter a informação que ela havia descoberto dos outros que habitavam a comunidade. Ao sentar-se na cama, ela vê que seu marido está sentado numa poltrona no canto oposto à cama. A expressão de Ben é solene e pensativa. Ao dar-se conta de que a esposa havia acordado, ele calmamente se levanta da cadeira e senta na ponta oposta de onde ela está na cama. Cabisbaixo, sem olhar para Stella, como se parecesse ter vergonha do que ia dizer, ele simplesmente fala que a esposa tinha razão. Era tudo verdade e ele deveria ter confiado no que ela disse, como Marco que não duvidou. Agora era tarde, eles já haviam levado o seu irmão a algum lugar na mansão para ser interrogado. Estão o acusando de ter começado tudo isso e que ele e Stella são cúmplices, que estavam sabotando evidências contra Lux e a comunidade. Visivelmente abalado, ele se joga no colo de Stella e chora copiosamente. Aos prantos, ele indaga onde o irmão pode estar e se eles serão os próximos.
Stella, tentando absorver tudo o que o Ben acabara de lhe contar, aproveita o breve momento em que fisicamente sente-se bem e rapidamente começa a analisar onde os dois estão.
A porta do quarto realmente abria somente por fora e isso significa que eles estão impedidos de sair. As janelas também não eram uma opção pois estavam seladas e não podiam ser abertas. Ela pensa que, se as janelas não abrem e não há uma unidade de ar-condicionado à vista, deve ter algum duto de ar central. Procurando, ela encontra o duto no teto, acima da janela. No banheiro, mais uma janela selada. Mesmo com tudo contra eles, na mente de Stella nasce um plano. Ela chama o marido e rapidamente discorre sobre o seu plano: Ben precisa quebrar a janela do banheiro de forma que pareça que eles tentaram escapar por ali. Ele precisa ser rápido, pois o barulho vai chamar a atenção e, em seguida, alguém chegará para ver o que está acontecendo. Stella vai tentar bloquear a porta com alguns móveis, mas isso só vai ajudar com um pouco de tempo. Enquanto o marido quebra a janela, ela já vai ter subido em uma cadeira e escalado dentro do duto de ar. No momento em que Ben abrir a janela, ele vai fazer o mesmo que ela fez e chutar a cadeira para longe, fechando o duto a fim de despistar onde eles estão. Depois seguem para tentar achar Marco que está sendo interrogado. Assim o fazem exatamente, Ben teve alguma dificuldade soltando o vidro da janela do banheiro, mas realmente parecia que eles haviam tentado sair por ali. O golpe final no vidro vai dar o barulho necessário e ele tem de ser rápido. Agora, enquanto seguranças e assistentes os procuram do lado de fora, eles se escondem no duto de ar e começam a procurar pelo irmão dele.
Em algum momento, Marco vai estar só e aí eles podem trazê-lo ao duto. Stella tem a impressão de que, nos dias em que andou a fazer fotos pelo lote, ela havia visto uma saída de ar central perto de um túnel. Provavelmente, Marco poderia saber para onde aquele túnel iria e eles por ali fugiriam. Eventualmente, após alguns minutos, eles chegam à saída de ar, onde Marco segue sendo interrogado. Lux é a pessoa que o interroga e isso é um mau sinal. Ela tem em suas mãos a câmera com as fotos e os vídeos que foram feitos como evidência contra ela. Ao olhar o conteúdo, Lux simplesmente fica sorridente e informa ao seu ex-amigo Marco que eles não foram os primeiros a descobrir tal coisa. Mas certamente poderiam ser os últimos. Lux continua e explica que a solução para um problema grave normalmente é a mais simples: ele e a família teriam decidido voltar à vida secular. Isso é o que diriam à comunidade. Ele congela e lembra já ter ouvido histórias parecidas. Como aprenderam a jamais questionar a sabedoria da líder, as histórias ficaram por isso mesmo. Pela falta de celulares e internet, ninguém acompanhava nada do que se falava disso no mundo secular. A tecnologia, como inimiga da comunidade, era essencial para que tudo estivesse a favor de Lux. Quando Marco olha para a Lux, ela entende que ele ligou os pontos e disse que não esperava menos dele. Nisso, ela tira uma arma de seu cinto, atira à queima roupa na caneça de Marco e tira a vida de seu ex-amigo como se fosse nada.
Lux e Ben observam apavorados o que acontece, sem poder fazer nada que não atente às suas vidas também e, em choque, seguem pela ventilação, chorando silenciosamente a perda de seu familiar querido. Ben pensa em seu pai, que está também na comunidade, alheio a toda confusão e barbárie que assolam sua família, tudo oriundo da sábia Lux que os havia acolhido com promessas de paz e uma vida feliz.
Em silêncio quase que absoluto, os dois conseguem navegar pelo fim do duto de ar e Stella, com ajuda de Ben, consegue arrastar a tampa da saída. Eles espiam o lado de fora, e parece que os grupos de busca não estão ali, mas sim mais para a direção da floresta perto da comunidade e da mansão de Lux. Rapidamente, os dois veem a porta como se fora uma porta de porão, no chão do outro lado de fora do duto. É um risco absurdo, pois nenhum dos dois sabe para onde essa passagem os levará. Pode ser uma armadilha ou pode ser a liberdade. Eles sentem que não têm escolha depois do assassinato a sangue-frio que eles acabaram de ver Lux cometer. Eles então se dão as mãos e, juntos, optam por seguir o caminho da liberdade.
Provavelmente, aquela passagem deveria ter sido usada em outros tempos para contrabandos, tráfico de escravos ou algo assim. Estava claramente em desuso e Lux, com a soberba de ter todos ao seu controle, não se deu ao trabalho de fechar o túnel. Essa foi a sorte do casal. Ao sair do túnel, parecia que já estavam longe o suficiente da comunidade e sentiram segurança para caminhar além da área rural em que estavam até avistar algum rancho ou povoado. Depois de muito caminhar e Stella vomitar algumas vezes, Ben teve de carregá-la nas costas, pois ela tinha perdido as forças. Ao pegá-la, ele sente que ela está com a barriga um pouco inchada e fica em pânico, achando que Stella está realmente doente por conta de toda a falta de cuidado médico e remédios naturais de Lux.
Ele começa a caminhar com mais afinco e eventualmente encontra uma pequena cidade onde prontamente consegue ajuda para a esposa que visivelmente parecia muito doente.
No pequeno hospital, tanto a Stella quanto Ben são atendidos. Ele só tem algumas lacerações nos braços e mãos pela quebra das janelas. Stella está severamente desidratada e recebe fluidos intravenosos enquanto tenta recuperar as suas forças. Pela exaustão e estresse, os médicos deixam Stella dormir e Ben é chamado a conversar com a polícia, já que estava a caminho. Anteriormente o médico ligou para a polícia e explicou rapidamente a história e pediu que eles viessem o mais rápido possível. Horas mais tarde, após Ben ter prestado seu depoimento à polícia, Stella acordou e estava melhor. Provavelmente, os fluidos ajudaram. O médico chega para conversar com os dois e diz que podem ficar aliviados, a razão dos vômitos era hiperêmese gravídica, que causa enjoos e vômitos mais intensos do que o normal durante a gravidez, nada grave. O casal, incrédulo, pois Stella havia afirmado ter tido sua menstruação antes e nada havia sentido além dos enjoos, contou também sobre os chás e suplementos. O médico então pondera que o chá e os suplementos podem ter piorado a situação, mas sem ter como examinar as substâncias, ficaria difícil saber o que realmente poderiam causar. O casal estava em choque, agora por uma situação feliz, mas não conseguiam deixar a tristeza de ter perdido alguém da família. Ben, com lágrimas nos olhos, abraça Stella e diz sentir muito por não ter podido salvar o seu próprio irmão. Ela diz que não é culpa de nenhum deles, mas sim de Lux. Os dois ainda tinham esperanças do pai de Ben ser salvo e que a Lux pague por seus muitos crimes.
Em um mundo injusto, eles sabiam que as chances reais disso acontecer de verdade eram ínfimas e que a justiça nem sempre seria feita; mas nada os impediria de ao menos tentar. Por Marco, pelo seu filho que ia nascer e por todos que ainda viviam em Lux Sanctuarium.
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